Rubiales atingido com ovos por tio em lançamento de livro em Madrid

Quando Luis Rubiales subiu ao palco no Espaço Eventize, em Madrid, naquela quinta-feira, 13 de novembro de 2025, às 19h30 UTC, não esperava ser recebido com ovos. Nem por um estranho. Mas por seu próprio tio, Luis Rubén Rubiales, que, gritando "sem vergonha", lançou três ovos em direção ao ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF). Um errou. Outro também. O terceiro — bem no meio das costas. O silêncio que se seguiu foi mais pesado que o ovo estilhaçado na roupa dele.

Um ataque familiar, um cenário de caos

O incidente aconteceu no exato momento em que Rubiales começava a falar sobre seu novo livro, Matar a Rubiales. Testemunhas relatam que o tio, de 72 anos, não parecia estar embriagado nem em crise psiquiátrica aparente — apenas furioso. "Ele estava calmo antes. Só levantou a mão e jogou. Como se fosse algo que planejou por anos", disse um jornalista da El País que estava na primeira fileira. Rubiales, visivelmente surpreso, tentou avançar em direção ao agressor, mas foi contido por seguranças e espectadores. "A sorte é que me pararam. Não sabia se ele tinha uma arma ou algo semelhante. Vi uma mulher grávida com duas crianças pequenas e pensei nelas. Se eu o tivesse apanhado, estaríamos agora numa situação diferente", declarou ao jornalismo local. Ele não escondeu o choque. À rádio Marca, confessou: "Fiquei muito assustado. Crescemos todos juntos. E ele sempre foi um encrenqueiro." O tio foi detido pela polícia madrilena por alegado crime de danos. Fontes da Guarda Civil confirmaram que ele não portava armas nem objetos perigosos — apenas ovos e um ódio que, segundo Rubiales, "nunca foi resolvido".

Um livro que ninguém queria, mas todos leram

Matar a Rubiales não é um livro de memórias. É uma tentativa de autodefesa. Publicado pela editora Planeta, o título é uma referência irônica à campanha pública que, desde agosto de 2023, exigia sua "morte simbólica" no futebol espanhol. O livro detalha sua versão dos fatos que levaram à sua renúncia da presidência da RFEF em 10 de setembro de 2023 — e à condenação judicial em fevereiro de 2025 pela Alta Corte da Espanha por agressão sexual contra a jogadora Jenni Hermoso, então com 33 anos e jogadora do FC Barcelona. O beijo não consensual, dado por Rubiales durante as comemorações da vitória da Espanha na Copa do Mundo Feminina em Sydney, foi o ponto de virada. As jogadoras da seleção entraram em greve. A sociedade espanhola se dividiu. O Tribunal Superior de Justiça de Madrid, após sete meses de julgamento, confirmou a culpa de Rubiales, aplicando multa de 10.800 euros (cerca de US$11.662) e banimento de três anos pela FIFA. Ele recorreu. Perdeu. E agora, com o livro, tenta reescrever a narrativa. "Estou aqui para contar a verdade", disse ele, após o incidente, voltando ao palco. "Este livro não é para me justificar. É para explicar o que realmente aconteceu. E não vou deixar que um ovo apague isso."

Um tio, um passado, uma ferida aberta

A relação entre os dois homens é complexa. Luis Rubén Rubiales é irmão de um dos pais de Luis Rubiales — fontes não confirmam se é do pai ou da mãe. Ambos cresceram em Jerez de la Frontera, em uma família tradicional, com valores rígidos e pouca comunicação emocional. Segundo colegas de infância citados por El Mundo, o tio sempre foi "um homem de poucas palavras, mas de reações explosivas". Já o sobrinho, desde jovem, foi visto como "o que saiu da linha" — ambicioso, carismático, polêmico. A tensão entre eles, segundo pessoas próximas, aumentou após a crise de 2023. O tio teria dito, em conversas privadas, que "não tinha vergonha de ser tio de um criminoso". Rubiales, por sua vez, afirmou em entrevista à RTVE que "não falava com ele desde o julgamento". A apresentação do livro era a primeira vez que o tio comparecia a um evento público relacionado ao sobrinho.

O que vem a seguir?

A RFEF não se manifestou oficialmente sobre o incidente. A FIFA, que já impôs o banimento, não comentou. Mas fontes judiciais em Madrid confirmaram que o Ministério Público está avaliando se o ataque com ovos pode ser enquadrado como ameaça ou assédio moral, dada a natureza simbólica e pública do ato. "Se alguém ataca um político, é um crime. Se ataca um ex-dirigente esportivo, é só um susto?", questionou a advogada Carmen Sánchez, especialista em direito esportivo. Rubiales, por sua vez, disse que não vai processar o tio. "Ele é meu sangue. E se ele está doente, não me cabe punir. Mas preciso que isso pare." O evento, que durou 45 minutos após o ataque, terminou com aplausos — alguns entusiasmados, outros em silêncio. Alguns espectadores saíram. Outros ficaram. Um deles, uma mulher grávida, agradeceu em voz baixa: "Você não fugiu. Isso importa."

Um país dividido, um homem sozinho

A cena no Eventize não foi só um ataque físico. Foi um eco de uma guerra cultural. Rubiales é, para muitos, o símbolo de um futebol machista, antiquado, que tratava mulheres como adereços. Para outros, é um homem punido por um gesto que, em contextos diferentes, seria ignorado — e agora perseguido por uma justiça que, segundo ele, "não ouviu sua versão". O livro vendeu 23.000 cópias nas primeiras 72 horas. O tio, agora preso, não tem advogado. Rubiales disse que não vai pagar. "Se ele quer atenção, que a tenha. Mas não por mim." O futebol espanhol continua em crise. As jogadoras da seleção feminina, que voltaram a jogar em 2024 após negociações históricas, agora veem o incidente como mais um sinal de que a sociedade ainda não entendeu o que realmente aconteceu. "Eles jogam ovos. Nós jogamos títulos", disse a capitã Aitana Bonmatí em entrevista ao Marca na sexta-feira. E assim, em Madrid, um tio jogou ovos. Um sobrinho continuou falando. E o país, mais uma vez, ficou em silêncio — mas não por muito tempo.