Greve parcial dos revisores da CP suspende dois comboios diários de Lisboa de 3 a 13 de novembro

Greve parcial dos revisores da CP suspende dois comboios diários de Lisboa de 3 a 13 de novembro

De 3 a 13 de novembro de 2024, os passageiros que contavam com os Comboios de Portugal nos serviços de longo curso enfrentam uma realidade inesperada: dois trens Intercidades por dia foram suprimidos, com partida de Lisboa Santa Apolónia às 15:30 e 17:30. A causa? Uma greve parcial convocada pelo Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante (SFRCI), sob a liderança de seu presidente, Luís Bravo. Não é só um protesto por melhores horários — é uma reivindicação por segurança, dignidade e cumprimento de acordos que já têm mais de dois anos.

Por que os revisores estão em greve?

A greve não surgiu do nada. Em 25 de julho de 2023, o SFRCI e a CP assinaram um acordo que prometia humanizar as escalas de trabalho dos revisores — reduzir turnos exaustivos, garantir intervalos mínimos e evitar que os funcionários ficassem presos em trens por mais de 12 horas seguidas. Passados 27 meses, o sindicato afirma que nada foi cumprido. "Passados dois anos e três meses, o Conselho de Administração da CP continua a não cumprir integralmente o que foi acordado", disse o SFRCI em comunicado. E isso, para os revisores, não é só injusto — é perigoso.

Além das condições de trabalho, o sindicato denuncia problemas de segurança que, segundo eles, a CP ignora há meses. Em várias estações, os comboios — especialmente os que usam as carruagens tipo Arco, compradas da espanhola Renfe Operadora, S.A. — são mais longos do que as plataformas. Isso significa que, em muitos casos, os passageiros precisam saltar entre vagões para embarcar ou desembarcar, e os revisores não conseguem monitorar todos os portais. "Estamos a trabalhar em comboios que não cabem nas estações", disse um revisor que preferiu não se identificar. "E quando o trem está cheio, nem conseguimos andar pelos corredores. É um risco para todos."

Como a CP está respondendo — e por que isso piora a situação

Enquanto o sindicato exige o cumprimento do acordo, a CP adotou uma estratégia que os revisores chamam de "manobra de contornar a greve": reduzir o número de carruagens por trem. Antes da greve, quase todos os Intercidades na Linha do Norte tinham oito carruagens. Agora, a CP operou apenas um trem com carruagens Arco por dia. "Para que não haja supressões de comboios, [a CP] reduziu o número de carruagens em todos os comboios", reclamou o SFRCI. Mas isso não resolve o problema — só o esconde.

Menos carruagens significam menos assentos. E com a demanda alta, especialmente em dias úteis, isso leva à sobrelotação. Os passageiros, que já enfrentam atrasos e cancelamentos, agora têm de competir por lugares em trens mais curtos. E os revisores? Eles ainda têm de fazer o mesmo trabalho — verificar bilhetes, garantir segurança, ajudar pessoas — em espaços mais apertados e com menos apoio.

Quais serviços estão afetados?

A greve atinge especificamente os serviços Intercidades que usam carruagens tipo Arco — as mesmas que a CP adquiriu da Renfe para modernizar sua frota. Também inclui todas as composições com mais de sete vagões. Os trens Alfa Pendular, regionais e internacionais não são afetados diretamente. Mas o impacto é sentindo em toda a rede: muitos passageiros que viam os Intercidades como alternativa mais barata e rápida estão sendo redirecionados para os Alfa Pendular, já lotados.

O dia mais crítico? 10 de novembro. Segundo informações do NiT, é o dia em que a combinação de greve, alta demanda e redução de capacidade vai gerar os maiores transtornos. Estações como Porto Campanhã, Coimbra e Braga devem ter filas de espera e embarques caóticos.

O que os passageiros podem fazer?

A CP oferece duas opções: reembolso total ou troca gratuita para outro trem da mesma categoria e classe. O prazo para fazer isso online é até 15 minutos antes da partida. Se perder esse prazo, ainda é possível solicitar o reembolso até 23 de novembro de 2024 — 10 dias após o fim da greve — preenchendo um formulário no site da empresa. Mas atenção: isso não compensa o tempo perdido, nem o estresse de ter que reorganizar viagens de última hora.

Outros condicionamentos na rede: obras em Lisboa

Outros condicionamentos na rede: obras em Lisboa

Enquanto a greve dos revisores agita os comboios de longo curso, outra crise se desenrola na capital. De 21 a 23 de novembro de 2024, a ligação entre Cais do Sodré e Algés está interrompida por obras do novo túnel da Linha Circular. A construção, conduzida em parceria pelo Metropolitano de Lisboa e pela Infraestruturas de Portugal, afeta passageiros que usam o serviço regional. É um segundo golpe para quem depende do trem em Lisboa — e um sinal de que a infraestrutura está sob pressão em múltiplas frentes.

O que vem a seguir?

O SFRCI já avisou que, se o acordo de 2023 não for cumprido até o final do ano, uma nova greve — desta vez total — será convocada. A CP, por sua vez, ainda não apresentou um plano concreto de cumprimento. O Ministério dos Transportes, até agora, permanece em silêncio. Para os passageiros, a mensagem é clara: se a segurança e os direitos dos trabalhadores não forem respeitados, o serviço ferroviário continuará instável. E ninguém quer viajar em trens que não cabem nas estações — nem com os portais fechados por falta de espaço.

Frequently Asked Questions

Quais comboios da CP estão realmente afetados pela greve?

A greve afeta apenas os serviços Intercidades que usam carruagens tipo Arco (adquiridas da Renfe) e composições com mais de sete vagões. Os Alfa Pendular, regionais e internacionais não são afetados. Mas como a CP reduziu o número de carruagens, muitos trens que antes tinham oito vagões agora têm apenas quatro ou cinco, o que reduz a capacidade e aumenta a lotação nos serviços que ainda operam.

Por que a CP não cumpriu o acordo de 2023?

O sindicato acusa a administração da CP de priorizar cortes de custos em vez de cumprir compromissos. O acordo previa escalas mais humanas, mas a empresa manteve turnos de 12 horas e horários de trabalho em que revisores não têm tempo para refeições ou descanso. A CP não apresentou um plano de implementação, nem respondeu formalmente às denúncias de segurança.

O que os passageiros devem fazer se perderem o trem?

Se o trem for cancelado ou você não conseguir embarcar por falta de espaço, pode solicitar reembolso total ou troca gratuita até 15 minutos antes da partida online. Depois disso, até 23 de novembro, ainda é possível pedir reembolso pelo site da CP, mas o processo é mais lento. Não espere até o último minuto — muitos já relatam demoras de mais de 15 dias para receber o dinheiro.

A greve vai afetar o Natal?

Se o acordo não for cumprido até dezembro, o SFRCI já ameaçou uma greve total em dezembro, justamente no período de maior movimento. Isso pode impactar viagens de Natal e Ano Novo, especialmente entre Lisboa e o Norte. A CP não tem planos de contingência para esse cenário — e os passageiros, mais uma vez, serão os mais afetados.

Existe alguma alternativa ao trem nesse período?

Sim — ônibus da Rede Expressos e FlixBus operam entre as principais cidades, mas os preços aumentaram até 40% desde outubro. Além disso, o trânsito nas autoestradas está mais pesado devido ao aumento do transporte rodoviário. Para quem mora em cidades menores, sem ligação direta por ônibus, não há alternativa viável. O trem ainda é a única opção acessível para muitos.

Quem é responsável por garantir a segurança dos trens?

A CP é responsável pela operação, mas a Infraestruturas de Portugal controla as plataformas e a infraestrutura das estações. O problema das plataformas menores que os trens é estrutural — e foi ignorado desde 2019, quando as carruagens Arco foram introduzidas. O sindicato diz que já enviou 17 ofícios formais pedindo adaptações. Nenhuma resposta foi dada. A segurança é um problema de gestão, não de acaso.